Água no RJ: Conflito no Saneamento, Tarifas Abusivas e o Papel Vital do Caminhão-Pipa

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Audiência Pública - Alerj - 04/06/2025

O acesso à água é um direito fundamental, mas no Rio de Janeiro, essa premissa básica tem sido abalada por um cenário complexo e preocupante. Em uma recente audiência pública da Comissão de Meio Ambiente da ALERJ, o debate sobre a cobrança de esgoto sobre fontes alternativas de água pelas concessionárias revelou uma série de desafios que impactam diretamente a população, o setor de transporte de água e até mesmo a sustentabilidade ambiental. Este artigo explora os principais pontos levantados, evidenciando a necessidade urgente de uma regulamentação justa e transparente para o saneamento fluminense.

O Problema da Cobrança de Esgoto sobre Fontes Alternativas

A principal questão que motivou a audiência foi a cobrança de esgoto sobre água proveniente de fontes alternativas, como poços e caminhões-pipa, que antes não ocorria. O deputado Jorge Felipe, presidente da Comissão de Meio Ambiente, enfatizou que essa cobrança é “indevida”  e tem “encarecido e, cá para nós também, inviabilizado o negócio de transporte de água potável para as empresas e encarecido, sobremaneira, os preços ao consumidor”. Isso ocorre mesmo em um estado como o Rio de Janeiro, que historicamente sofre com a falta de água em diversas comunidades, tornando o transporte alternativo um “backup” essencial.

O Papel Vital do Transporte Alternativo de Água

A importância dos caminhões-pipa foi unanimemente reconhecida pelos oradores. Bruno Rodrigues, presidente da ATAPRJ (Associação de Transportadores de Água Potável), destacou que essas empresas prestam um “serviço essencial e fundamental para a população”, garantindo o acesso à água, que é um “bem de domínio público”. O setor se mostra crucial especialmente em períodos de seca e emergências, como a falta de água em Campo Grande, onde o transporte alternativo “salvou” a população. Além do consumo humano, a água de fontes alternativas é vital para fins não potáveis, como rega de jardins, piscinas e, de forma crucial, para a construção civil, que necessita de grandes volumes para a produção de concreto, algo que a rede pública não consegue suprir.

Abusos e Perseguições das Concessionárias

As denúncias de abusos por parte das concessionárias foram alarmantes. Bruno Rodrigues apresentou evidências de “perseguição” a caminhões-pipa, com carros das concessionárias, principalmente a Iguá, seguindo os veículos e funcionários se identificando indevidamente como servidores públicos. Essas ações, segundo o presidente da TAP, podem ser consideradas “crime, tipificado no artigo 147 do Código Penal”.

Além da perseguição, as concessionárias têm aplicado “multas indevidas” diretamente nas contas de água dos consumidores, sem perícia probatória e sem considerar a origem regular da água. Essas multas, com valores exorbitantes, são lançadas de forma a compelir o pagamento, sob pena de corte no fornecimento, o que foi classificado como “ilegal” pelo deputado Jorge Felipe, pois cerceia o direito de contestação.

A “Venda Casada” e a Concorrência Desleal

Outro ponto crítico levantado foi a prática de “venda casada”. Ângelo de Fontes, advogado e representante de condomínios, denunciou que a concessionária Iguá condiciona o fornecimento de água por caminhão-pipa apenas por meio de seus próprios veículos, multando quem busca o serviço de empresas privadas. Essa prática é “abusiva e lesiva ao consumidor” e expressamente vedada pelo Código de Defesa do Consumidor.

O presidente do Sindicarga, Alexandre Aires, questionou a lógica da proibição do uso de caminhões-pipa pelas concessionárias, lembrando que elas próprias subcontratam essas empresas em momentos de necessidade. Essa situação gera uma concorrência desleal, já que as empresas de transporte de água potável, devidamente regulamentadas, são impedidas de atuar livremente, enquanto as concessionárias buscam ter acesso à carteira de clientes, o que fere a LGPD e a confidencialidade.

O Modelo Tarifário e a Questão Ambiental

A tarifa de água no Rio de Janeiro é “caríssima”, muito superior à de outros estados, conforme demonstrou Alex Velmovitsky do SECOVI. Essa realidade, aliada à cobrança de esgoto de 100% da tarifa de água (a segunda maior do Brasil), inviabiliza a vida em condomínios, onde a conta de água pode representar até 42% das despesas ordinárias, de acordo com Roberto Bigler da ABADI.

Do ponto de vista ambiental, o diretor do INEA, Cauê Bielschowsky, concordou que é “ambientalmente incorreto” utilizar água tratada para fins não potáveis, o que corrobora a necessidade de incentivar o uso de fontes alternativas para usos específicos que não geram esgoto ou que podem ser supridos de forma mais eficiente. O presidente do CREA, Miguel Varenga Fernandes, também reforçou a necessidade de rediscutir o “modelo tarifário” que “não tem explicação, não tem memória de cálculo, não tem lógica”.

A Urgência da Regulamentação

 Apesar do reconhecimento por parte da Agenersa (Agência Reguladora de Energia e Saneamento do Rio de Janeiro) de que existe um “gap regulatório” e da necessidade de “normatizar” essa relação, as concessionárias ainda não apresentaram propostas concretas para resolver o impasse. O presidente da Agenersa, Rafael Menezes, expressou a expectativa de que as concessionárias apresentem “sugestões” que componham “com todos os interesses do segmento”. No entanto, a falta de avanço tem gerado frustração e impactado negativamente as empresas de transporte de água, que sofrem com negativações e dificuldades bancárias.

Conclusão: A audiência pública na ALERJ escancarou um conflito latente no setor de saneamento do Rio de Janeiro, onde a busca pelo lucro por parte das concessionárias parece se sobrepor ao direito da população e à sustentabilidade das atividades econômicas. A cobrança abusiva de esgoto, as multas indevidas, as perseguições e a prática de venda casada são problemas que precisam ser combatidos. É imperativo que a Agenersa atue de forma decisiva para regulamentar a questão, garantindo o equilíbrio entre os interesses das concessionárias e a modicidade tarifária, o acesso à água alternativa e o respeito às empresas regulamentadas. O tempo está correndo, e a população fluminense merece um saneamento justo e eficiente.

FAQ: Entenda os Recursos Hídricos, Saneamento e Fontes Alternativas de Água no Brasil.

O que são os recursos hídricos e por que são importantes?

Os recursos hídricos referem-se a todas as fontes de água disponíveis em uma região, incluindo rios, lagos, aquíferos e águas subterrâneas. Eles são essenciais para a vida humana, a agricultura, a indústria e a manutenção dos ecossistemas. A gestão eficaz dos serviços de água é crucial para garantir a água e saneamento adequados. sustentabilidade hídrica e a disponibilidade de água para todos, especialmente em tempos de mudanças climáticas e crescimento populacional.

Quais são os principais desafios enfrentados pelo saneamento básico no Brasil?

O saneamento básico no Brasil enfrenta diversos desafios, como a universalização dos serviços, a falta de investimento em infraestrutura, a desigualdade no acesso à água e ao esgotamento sanitário, e os abusos das concessionárias. Além disso, a regulamentação do saneamento precisa ser aprimorada para garantir que todos tenham acesso a serviços de qualidade.

Como as políticas públicas podem melhorar o acesso à água e ao esgotamento sanitário?

As políticas públicas desempenham um papel crucial na melhoria do disponibilidade de água e ao esgotamento sanitário ao estabelecer diretrizes claras e fornecer financiamento para projetos de infraestrutura. Elas devem focar na universalização dos serviços, promover a regulamentação saneamento é fundamental para a melhoria dos serviços de água. sustentabilidade hídrica e garantir a governança da água de forma transparente e eficiente.

O que é a governança da água e por que ela é vital?

A gestão da água diz respeito ao conjunto de processos políticos, sociais, econômicos e administrativos que afetam a maneira como a água é administrada e distribuída. Uma gestão eficaz da água é essencial para garantir que os recursos hídricos e os serviços relacionados sejam utilizados de forma sustentável e que todos tenham acesso aos direitos dos consumidores. Isso inclui a disponibilidade de água de boa qualidade.

Quais são as fontes alternativas de água e como elas podem ajudar?

As fontes alternativas de água

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